Trabalho de Conclusão



UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO DE ESTUDOS GERAIS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
ANA MARIA SOARES

RELAÇÃO ESCRAVIDÃO NO BRASIL E NA ÁFRICA NO FINAL DO SÉCULO XVII E INICIO DO SÉCULO XVIII.
NITERÓI

ELABORADO POR ANA MARIA SOARES

Como requisito para a aprovação do trabalho de conclusão
COMISSÃO EXAMINADORA: Professora Drª Hebe de Mattos

Agradecimentos:

A Deus e meus Orixás, pela presença constante em meus dias.
Aos meus professores.
Aos meus amigos.
Aos meus irmãos.
Ao meu amigo e Pai espiritual, Babá Elias.
E em especial a minha mãe. (in memória).





“Em tua grandeza de mãe”, Consagrei-a de Santa e Rainha,
Em teu mundo humilde e pobre, Não pudeste dar-me grande cultura, Deste-me filosofia da vida.




O presente trabalho versa sobre a compreensão das estruturas de escravização no Brasil e 
na África no final século XVII e inicio do XVIII. Salientando as práticas diversificadas 
estabelecidas pelas sociedades africanas.  Como elas se mantinham e como eram 
controladas? E como foram estruturadas e distribuídas ao final do século XVII e início do 
século XVIII?   Em decorrência as transformações ocorridas profundamente pelo tráfico, às
sociedades africanas mercadejaram seu próprio povo. Será que a Costa da Mina 
(hoje Gana) e Senegambia, eram as únicas regiões que compravam escravos, ao invés de 
vendê-los? Paul Lovejoy, Alberto da Costa e Silva e outros autores que, pesquisaram 
de forma relevante sobre estas questões, buscaram justificar como ocorreram às diversas 
formas de se escravizar o homem dentro do seu próprio hábitat tentando retirar-lhe sua 
ideologia e sua cultura, estabelecendo núcleos completamente diversificado fora 
de seu convívio, tradicional. 
As fontes usadas por esses autores foram cartas, mapas, gráficos, documentos e relatos de 
viajantes.   A estrutura do trabalho é suscitada por estes autores, seguindo às vezes a 
mesma linha de pensamento. Ora concordando, ora assemelhando ou comparando. 
A primeira linha interpretativa tem por objetivo enfatizar como a escravidão africana se 
apresentou. Tinha ela em seus moldes de escravização, uma relação dicotômica com a 
escravidão no Brasil?Na África, segundo alguns historiadores, os africanos já tinham 
conhecimentos políticos, sociais e econômicos.  Muito antes dos europeus, chegarem às 
regiões africanas, eles já dominavam práticas de plantio, mineração, navegação e de 
comercialização. Os africanos foram vítimas de mercadores de escravos, dos próprios
chefes tribais que promoviam guerras a fim de adquirir escravos,  com isso, passou
a ter mais lucro do que o comércio legal. Os escravos também serviam de moeda 
para manter relações diplomáticas com a Europa, também supriam as antigas 
civilizações através do deserto do Saara e da África subsaariana, que no inicio 
das navegações foi apenas um ponto de apoio, de passagem para a Ásia que 
era o alvo direto de especiarias. Foi o empreendimento de exploração das Américas 
que levou à montagem da grande empresa do tráfico de escravos com a África por três 
séculos e meio. O segundo capitulo analisaremos uma nova inserção da África, 
na economia da Europa e das Américas. Desta vez, o tráfico de escravos que os 
europeus destinavam para as plantações das Américas, sobretudo para o Brasil. 
No seu conjunto, o tráfico para o mundo árabe e para as Américas foi o responsável 
pela expulsão de cerca de vinte milhões de seres humanos da África. 
E o terceiro e ultimo capitulo, sobre o inicio do século XVIII, reflete como a 
sociedade colonial instalou-se sob o signo da escravidão, criando diferenças sociais 
intransponíveis e preconceitos marcantes contra o trabalho manual. 
Os senhores de engenhos e a Igreja Católica detinham poder político em suas 
propriedades e também das classes dominadas.

RELAÇÃO ESCRAVIDÃO NO BRASIL E NA ÁFRICA NO FINAL DO SÉCULO XVII E INICIO DO SÉCULO XVIII.

Do ponto de vista de Paul Lovejoy a escravidão era uma estruturação meramente 
explorativa. Suas referências abrangiam a idéia de que o escravo tinha como 
particularidade: era considerado um estrangeiro elevado pela origem ou aprovação 
judicial, retirara-se dele o legado social que lhe fora dado ao nascer, à repressão 
podia ser usada livremente e também sua força motora estava à inteira disposição de 
um senhor, ele não mandava na sua própria sexualidade e, em suas aptidões 
reprodutivas. Sua condição de escravo era herdada, a não ser que fosse tomada alguma 
medida para transformar essa condição. É a partir destas fontes e registros que 
historiadores, em linhas gerais traçam o mesmo viés, enfatizando que o tráfico, foi 
indubitavelmente o essencial componente de transformação para as sociedades 
africanas, e com a chegada dos europeus, estas sociedades sofre um impacto bastante
profundo.
Segundo ainda Paul Lovejoy, os caminhos de fornecimento de escravos para costas 
mais ocidentais partiam do golfo da Guiné, com área mais extensa voltada para a recente 
Serra Leoa, Guiné e bacia de Senegâmbia, encontravam-se intimamente atreladas à 
revenda interior, onde muçulmanos eram principais mercadores, mas que estes, não 
predominavam deste lado ocidental, suas raízes não eram oriundas desta região. 
Seguindo ainda o mesmo viés de pensamento Paul Lovejoy estabelece que, a 
maior parte das exportações de escravos não tinha ligações com o que ocorria 
no interior destas regiões, eram mais islamizados, e em decorrência aos 
acontecimentos políticos, alguns escravos iam sendo espalhados por caminhos 
que saiam de Serra Leoa-Libéria e adentravam a Costa do Marfim, onde o islamismo 
ainda era pouco difundido. A Costa Ocidental era abastecida pelo vale do Senegal 
e Gâmbia, no planalto de Futa Jalom estendiam-se tensas floretas de cola e mais 
adiante às savanas, já abasteciam o comércio de escravos, estabelecendo como base 
de troca esse produto e outros. E ao final do século XVII, a guerra santa funcionou 
como elemento fundamental, servindo também para o aumento de exportações 
de escravos, foi também consecutivo no século XVIII.  Para Paul Lovejoy, embora a 
costa superior da Guiné não fornecesse um número expressivo de escravos nas primeiras 
décadas do século XVIII, Alberto da Costa e Silva, ao contrário de sua linha de pensamento, 
sucinta que, alguns povos fossem considerados grandes traficantes de escravos nestas regiões 
no início do século XVII, como caso dos mandingas, bixirins.

“(...) os maiores mercadores que há em Guiné são os mandingas, em especial os bixirins, 
que são os sacerdotes. Estes (...) correm todo o sertão de Guiné e todos os portos do mar, 
e assim não se achará nenhum porto, desde os jalofos, São Domingos, rio Grande até 
a Serra Leoa, que neles não se achem mandingas bixirins.”[1]

Segundo Alberto da Costa e Silva, estes povos usavam com freqüência o 
Forte de São Jorge da Mina como entreposto comercial, retirando ouro, escravos, âmbar, 
marfim, cera, índigo, almíscar, peles e plumas que comercializavam com outros povos, 
através do deserto. Dessa maneira, o autor justifica a atuação dos mandingas, no grande 
comércio no inicio do século XVII, levavam e traziam escravos dentre outros produtos, vindos 
do interior da Guiné para serem comercializados em todos os portos. Embora estes 
comerciantes, segundo o autor vivessem longe da visão portuguesa, almejavam o ouro 
dos acãs que para vendê-lo usavam de artimanhas. E seguindo os passos de 
Paul Lovejoy que, ao enfatizar que a escravidão era fonte de tanta opressão, gerava 
guerras com a única de finalidade de manter o comércio, tinha como alvo fazer prisioneiros 
para serem escravizados. Estabeleciam guerras organizadas e violentas, que permitiam 
ataques em massas ou em pequenas razias.

Escravos, banditismo e seqüestro, apontam para uma escravização opressiva com inserção
Voltada para uma seriação continuada decorrente a uma ação política, com objetivos 
de escravizar. A escravidão podia ser apenas produto da guerra e não a sua causa, 
embora também pudesse ser vista como atividade criminal em menor proporção, mesmo assim 
com finalidade de escravizar. O caráter estratégico usado nesse tipo de ação em capturar os
africanos, estava imbuído numa política hegemônica, dessas sociedades, onde os 
prisioneiros eram utilizados militarmente ou em escala doméstica, tinha como manutenção 
as guerras, o custo com a venda de almas. As guerras foram grandes responsáveis pela 
escravização de novos escravos na história, alguns casos de escravização tinham procedimento com a justiça, religião e o tráfico atlântico. A maneira de como era punido o escravo, principalmente nos casos de assassinatos, furtos, adultérios e feitiçaria, eram sem dúvidas formas de escravizar. O impacto do tráfico europeu pelo oceano Atlântico, justificado pelo autor como expansionismo evolutivo da escravidão, nas regiões da costa da Guiné onde as influências islâmicas nestas regiões eram quase nulas.  Havia sociedades baseadas no parentesco e na escravidão da lei e da tradição islâmica não distintas uma da outra. Para o autor, o fascínio pelo mercado Atlântico teve como causa o distanciamento de diversas maneiras locais de escravizar, com uma estrutura social cujo sistema escravista era singular mantinha a dependência pessoal, no qual os escravos exerceram papel fundamental para economia. Diversas maneiras foram utilizadas em relação a criminosos suspeitos, muitas vezes eram vendidos para além de suas comunidades. E mais uma vez a forma de escravizar estava ligada à violência, apesar de ser vista como legitimada pela sociedade em questão.  A escravidão era também uma maneira do controle do senhor, pela reprodução física do escravo e também como forma de penhoramento. Como reprodução física, os seus filhos não lhe seriam dado nenhum direito materno ou paterno, como penhor dava o filho ou parente próximo como pagamento da dívida. Embora este último pudesse voltar ao seio de sua família após o pagamento da dívida.Paul Lovejoy e Alberto da Costa e Silva têm o mesmo viés de pensamento quanto sucinta que, homens e mulheres não tinham domínio próprio, que a reprodução só ocorria quando fosse para aumentar o número de contingente de escravos de sua estirpe. Essa demonstração de propriedade de seu senhor, isto quer dizer, já que eles não tinham direitos a sua própria vida, nem mesmo sexual, estavam excluídos de qualquer direito jurídico ou social.  Para Paul Lovejoy, o controle também estava ligado ao casamento, só poderia casar-se com o consentimento do seu senhor, ou se lhes fosse dado por méritos de bravura em batalhas militares, alguma escrava, como recompensa, os filhos deste casamento pertenceria ao senhor, sua mãe perderia o direito a maternidade, pois seus filhos seriam de total domínio do senhor. Indubitavelmente podia-se reduzir posição social de uma pessoa recém-escravizada perderia a qualidade de membro de sua comunidade, pelo fato de estar ligado a uma punição de adultério, roubo assassinato ou feitiçaria, que atrelava ao trabalho com a escravidão, mas os escravos estavam sujeitos a qualquer mando, por parte de seu senhor, para fazer prosperar a economia, fosse tarefa branda ou árdua, pois, com isso os escravos ganhavam posição, poder considerável. Tanto o feitor quanto escravo na plantation tinham igual subordinação ao seu senhor. Suas funções eram de natureza diferente, e habitualmente não tiravam proveito nenhum dessa relação, isto é, não havia reciprocidade entre eles. Toda e qualquer legitimidade, era dada ao senhor, que se responsabilizava pela identidade e conduta do escravo, fosse errado ou certo, isso se aplicaria ao escravo de ganho administrativo. Em regiões onde a forma de mandar era feita de maneira descentralizada, todas essas características estavam presentes no cotidiano destes sistemas, de que o escravo não tinha nenhum controle sobre si, era tido como propriedade de seu senhor. Para melhor entendermos Paul Lovejoy, este enfatiza que, os homens e as mulheres não tinham domínio próprio estavam voltados apenas para o trabalho escravo, por exemplo, o de tomar conta das esposas dos seus senhores, nos haréns, escravos eunucos.  Em alguns casos em que escravo doméstico e, sobretudo a escrava concubina, mantinha vínculos quase que de parentesco com a família do senhor era tratada como se fosse membro ou quase da família, modelos de vida de expectativas pouco diferentes de seu senhor. Juntos na mesma casa ou vizinhança a realização do trabalho em parceria com o dono e suas mulheres, podia fomentar que esses escravos quase faziam parte da família de seu senhor. Ao contrário de outros povos, a humilhação estava atrelada a escravidão, sempre através de diferenças e superioridades do senhor, onde o escravo sempre serviente para com seu dono. Segundo Alberto da Costa Silva, tais características citadas acima por Paul Lovejoy e por ele mesmo estavam fundamentadas nas estruturas já conhecidas antes do século XV, uma escravidão de proporções mais amplas, por serem mais centralizadas ou mesmo por influências trazidas de fora. Aos escravos pertencentes a sociedades com serviços de linhagens, podia ser considerada marginal, uma vez que,as escravas  tinham grande peso, quanto a sua classificação no desempenho de tarefas familiar, poderia ser o de uma esposa ou de uma filha. E apresentam exemplos de povos que sequer conheciam a escravatura, mas acabaram por adotá-la, por pressão externa, como os diolas de Casamansa, que só fizeram senhores de escravos no correr do século XIX.   
Neste continente em que o dono da terra era o senhor e que exercia forte poder sobre os homens, as mudanças ocorridas da escravidão tiveram por associação as mudanças políticas que formavam estados pequenos administrados pelas sociedades de linhagem, e desses pequenos estados fizeram - se reinos, dos reinos, impérios. Além disso, os chefes poderosos tiveram grande importância no processo com relação à escravaria, como soldados e força de trabalho, para incrementar mais o poder. O que se sabe segundo o autor, aos estados mais extensos correspondem, de maneira geral, maior centralização e poder por meio da hierarquização, foram estes estados que mais se envolveram no tráfico através do Mar Vermelho, do Saara ou do Atlântico, onde os sistemas escravocratas eram mais abrangentes. Os escravos destes sistemas tornavam-se de fato sinônimo de trabalho. As tarefas eram características do trabalho doméstico, entre os quais levavam vantagens, os de natureza agrícola. Estes escravos derrubavam matas, abriam clareiras plantavam e colhiam, cuidava da capoeira e do gado, cortavam lenha, apanhavam água, eram carregadores e remadores de barcos de pesca, além de caçarem. Os grandes proprietários encontraram meios de utilizar novas técnicas para aproveitar melhor os escravos, nas grandes áreas de terra.  Puseram os escravos para trabalhar em grupos, fazendo o plantio produziam para alimentar toda a corte, a administração e o exército. Isso nos grandes reinos de savana sudanesa, como Gana, Mali, Canem-Bornu, Songai e, mais tarde em Oió. Estes proprietários de terras assimilaram-se aos compradores tomando como exemplo, a barganha que era um meio de adquirir mais escravos.  Do ponto de vista de Paul Lovejoy, o modelo de escravidão no vale do Nilo e da Etiópia eram semelhantes, da que existia no Sudão Central e Ocidental, havendo também  a presença de estados cristãos e  sultanatos muçulmanos em disposição à solidificação do comércio e da sociedade islâmica. E conseqüentemente o modelo islâmico, mesmo sendo de origem Cristã.
Comerciantes utilizavam o comércio de exportação de escravos através do Mar Vermelho e ao longo do Nilo, isto é, permanentes em mãos muçulmanas. A escravidão ajustava-se ao modelo islâmico, que utilizavam escravos no serviço militar, nos haréns, na agricultura e no governo. O modelo do leste africano diferenciava de outros encontrados ao logo do meridional do Saara e locais próximo ao mar Vermelho nesta região não havia impérios islâmicos ou estados que fossem usados na captura de escravos. Pelo contrário, a costa era protegida por um número de cidades comerciais que faziam o fluxo de mercadorias entre o vale do Zambeze, no sul, e portos da Arábia e da Índia. O ouro, marfim e escravos eram trazidos do interior do Zambeze. A escravidão tinha semelhanças nesta região como em qualquer região do mundo muçulmano. Concubinas, empregados domésticos, funcionários dos governantes subalternos dos portos costeiros e escravos de lavouras constituíam a população servil. As platations estavam centralizadas em diversos pólos, incluindo a região ao redor de Mombaça, Melinde, no norte, e na costa noroeste de Madagascar. Mas Alberto da Costa e Silva têm seu ponto de vista que segue o mesmo olhar de Paul Lovejoy que, a participação do comércio de seres humanos, na Etiópia e na Núbia, demonstrava claramente que por trás desse negócio estava o desenvolvimento da escravidão, onde mulheres e rapazes eram importantes instrumentos de atuação, muito antes do século XV, eram trazidos através do Mar Vermelho e pelo Nilo, principalmente os eunucos que não ofereciam qualquer prejuízo ao seu senhor. O autor também afirma que foi em Axum e na Núbia que, a Arábia colheu estímulos para o crescimento de seus escravos. Do ponto de vista de Paul Lovejoy, uma área que exporta pelo menos 4,5 milhões de escravos no início do século XVII, até o final do século XVIII, esse quantitativo de escravos teve uma significação surpreendente, pois estava relacionado com a população local. 
Para melhor situarmos, estava no interior da Costa do Ouro em 1600, este local já era bastante populoso e vinha circunvizinhado a Costa da Guiné. Na metade do século XVII, seguindo o mesmo viés, o autor sucinto que, em Serra Leoa, o hábito de escravizar vinha de encontro com outras regiões com os mesmo propósitos, em Oió, Daomé e na Costa da Mina, mais tarde, Costa dos Escravos. Naturalmente, profundas diferenças fizeram-se sentir entre essas áreas que promoveram a escravidão. Mais que isso, as características que representavam tais sociedades, tinham estruturas bem diferenciadas. Os Acãs, por exemplo, eram de sociedades matrilineares, em outras regiões eram patrilineares, com características sócias estabelecidas, através de costumes, do casamento ou de herança que tinham direito. A centralização dos estados, tais como na Costa do Ouro e Costa dos Escravos, somavam - se um contingente bem expressivo. No interior de Biafra e de Serra Leoa, seus estados ainda não eram centralizados, por esse motivo a ausência de escravos nestas áreas e (exceto Futa Jalom no interior sul da Serra Leoa depois de 1720) a disponibilidade de recursos locais era à base dos diferentes setores econômicos. Apesar de haver semelhanças na institucionalização da escravidão nestas regiões como: os escravos eram mortos em funerais, e eram imolados em ocasiões religiosas ou solenidade de Estado.  O autor ressalta que, tais características foram mudando ao longo do tempo, acompanhando as alterações nas estruturas econômicas e de poder, as posições do escravo e do ex-escravo. Entre os axantes e os acãs em geral, o autor nos dá um bom exemplo. Essas mudanças foram sentidas com absorvimento dos cativos pela família do dono. No século XIX, há quase duzentos anos antes, quando se encontrava em crescimento a economia dos acãs, fundamentada no trabalho escravo, no trabalho braçal, que entravam na densa floresta, para preparar a terra para agricultura, garimpava o ouro nos rios ou, retirava-o das profundezas das minas, era carregadores utilizados nas caravanas, que margeavam a floresta setentrional a beira das planícies litorâneas, com fardos pesados levados em suas cabeças, pois já eram acostumados. Viviam afastados, e mantinham pouco contato com seu dono e passavam a ser conhecidos pela estrutura de sua sociedade que era matrilinear, cujo lado feminino da família é parente por parte da mãe.Na Costa do Ouro, a escravidão também era parecida com aquelas do interior, os escravos faziam tarefas semilares. O sexo masculino era utilizado, como soldados armados, carregadores fazendo comércio com o interior, tripulante de barco e trabalhadores do campo, estes eram utilizados por comerciantes costeiros.  Algumas mulheres escravas tornavam-se esposas, elas também trabalhavam no campo. Os idosos controlavam os meios de produção e acesso as mulheres, essa estrutura tinha o poder baseado na gerontocracia, isto é,.homem mais velhos casavam-se com mulheres mais novas. O tamanho de sua prole estava baseado, a sua riqueza, pois quanto maior o número de filhos e escravos, maior elevação social, deixando-o bastante estimado. Da compra de mulheres escravas, através do penhor legitimo, os casamentos iam acontecendo e junto à poligamia, e os filhos eram frutos destes casamentos arranjados, mas tinha um atenuante, seus filhos não podiam ser vendidos, pois eram legalmente livres. Essas sociedades tinham características diversificadas, embora com resultados bem parecidos. O sistema dos ajele tinha muita importância para o governo da província de Egbado, estes escravos trabalhavam estruturadamente nesta província, como funcionários administrativos, mantinham acesso direto com o rei. Os requerimentos feitos por esses funcionários eram determinantes quando se tratava de mandar, pois queriam vários escravos subordinados a eles. Os soldados-escravos de Oió, eram responsáveis por outros escravos, tinham privilégios e não tinham semelhanças com outros escravos, pois, estavam sempre sozinhos comparavam-se aos muçulmanos e estrangeiros.

“O crescimento e a expansão do tráfico europeu de escravos através do oceano Atlântico tiveram impacto decisivo na evolução da escravidão na África, principalmente naquelas áreas da Costa da Guiné onde a influência islâmica tinha sido fraca ou inexistente”.[2]

Do ponto de vista de Paul Lovejoy, ainda que as práticas islâmicas tenham compartilhado ideologicamente na África, o impacto do mercado internacional para escravos foi mais aberto ou teve um período menor, contudo tinha suas diferenças. Durante os primeiros 150 anos, o comércio Atlântico, teve suas exportações aumentadas pela demanda de escravos chegando a 409.000 escravos de 1450 a 1600. Depois, esse crescimento foi tão imenso que esse comércio ultrapassou em números todas as exportações anteriores. Os volumes totais para o comércio atlântico atingiram 11.313.000 escravo, um número derivado em grande parte da Base de Dados W.E.B. Du Bois de Viagens de Navios Negreiros, a qual suplanta o censo pioneiro de Philip D. Curtin. A vista oceânica do mercado de escravos mexeu com estrutura das sociedades africanas, nas quais a África tinha sua própria maneira de escravizar, com isso, o escravismo que era de dependência pessoal, sofre transformações das quais os escravos estavam habituados, onde exerciam papel fundamental para a economia local.  Segundo Finley, esse diagnóstico é semelhante à transformação, que produz uma essencial característica, e altera a forma pela qual a escravidão pode ser inserida em uma originada sociedade. Essa ruptura substancial para a historiografia africana tem como marco, o início do comércio Atlântico, essencialmente porque este vultoso comércio estava ligado à transportação de milhões de vidas humanas. A África não teve antes do tráfico nenhum contato com o mundo externo, vivia separadamente. Extraía uma boa quantidade de sal e peixe, onde sua negociação era interna, trocava-se por alimentos aquilo que se produzia na região praieira. O impacto econômico sofre mudanças com a nova tecnologia dos navios que cruzam o oceano, que trazem outras formas de riquezas para os que residem e os que vão promover essas mudanças políticas numa linha graduada sem precedentes.  Estas mudanças estavam profundamente integradas a essa transformação, não essencialmente, que os escravos fossem os objetos de exportação, mas porque também se tornaria muito mais comum na sociedade local do que anteriormente.
Segundo a historiadora Marina de Mello e Souza em sua maravilhosa obra, África e Brasil Africano, apontam que, no Reino Congo, agricultores trabalhavam e defendiam a sociedade congolesa sempre que solicitados pelos chefes tribais ou pelo rei, de aldeias distantes trazidos pelos chefes, alimentos, tecidos de ráfia e sal, oriundos do nordeste e sudeste da Costa. Estes também traziam essencialmente, cobre e búzios, objetos de circulação monetária que, alimentavam o comércio, feito a base de troca. Estabelecendo a ordem e controlando o comércio dentro de várias aldeias, o rei ou mani congo, designava responsabilidades de mando a cada chefe de aldeia, assim era constituída  a sociedade congolesa.Segundo  a autora sucinta que, achegada dos portugueses da início ao comércio atlântico com os povos da região da Senegambia,da Guiné, do Golfo de Benin,da Foz do rio Congo,da baia da Ilha de Luanda e Benguela.E atenta que, desde o século XVII  ao XIX  a Costa da Mina foi marcadamente a maior fornecedora de escravos, por  parte de mercadores   através do atlântico .Para Alberto da Costa e Silva as semelhanças entre portugueses e conguenses estavam evidentes desde o século XV ao XVII, pois, sua praticas religiosas   acabavam por coincidir.Espiritualmente ambos acreditavam que as forças divinas estavam ligadas a natureza e aos homens. O autor aponta que, no Congo não existiam escravos, exceto da chegada dos portugueses ao Continente, ainda que o autor acredite que, o Congo, na verdade, tivesse uma escravidão passageira, composta por indivíduos transgressores da lei. Embora segundo o autor, tais crenças trazidas de além mar pelos portugueses, não se confrontaram diretamente com as tradições locais aprendidas pelos conguenses desde quando ainda eram apenas crianças. Para Marina de Mello e Sousa que ,segue o mesmo viés de pensamento de Alberto da Costa e Silva sucinta que, a primazia da chegada ao Continente africano foi dos portugueses que, ao Congo pagavam taxas e trocavam mercadorias para obter acesso ao comércio de escravos, junto a chefes africanos predominantes na região de Daomé e Oió. Como instituição à escravidão de linhagem compartilhou e asemelhou-se nos mesmos aspectos básicos a todos os tipos de escravidão: no elemento propriedade, a identidade estrangeira, o papel da opressão e a exploração produtiva e sexual. Diferente dos estrangeiros notadamente foi no plano ideológico. Seguindo os passos de Paul Lovejoy, percebemos que, o impacto do mercado, produziu diversas mudanças que podem ser julgadas como influência européia, tendo como fator marcante da economia, do que em nível ideológico.  A escravidão continuou a ser arquitetada em termos de parentesco, os escravos continuaram a fazer novas tarefas. Os escravos foram usados cada vez mais no governo, no comércio e no serviço militar, comparadamente aos muçulmanos. A estrutura e os títulos eram diversificados, mas a colocação era a mesma. O controle das mulheres incidia da mesma maneira. Os homens eram polígamos, tinham quantas esposas quisessem adquirir, pois, leis não regulamentavam o número de esposas e o status das concubinas, como na lei islâmica. Mas o resultado era semelhante. O homem respeitável era casado com várias mulheres, algumas eram escravas e essa classificação desigual das mulheres dentro da sociedade, era um meio de controle social, essencialmente porque eram muitas vezes os principais trabalhadores da agricultura, e também reprodutores da família. E essa influência das mulheres consentia a dominação da produção e da reprodução. E esse exterior do escravismo teve um respeitável impacto no comércio de exportação. O mercado europeu queria trabalhadores para o campo e para as minas. Eles não se importavam com o sexo deles, embora preferissem os de sexo masculino. Já na África os proprietários de terras, os africanos tinham preferência por mulheres e crianças. É daí surge à divisão na população escrava, os comerciantes europeus, compravam mais ou menos dois homens para cada mulher, em proporção maior, os homens.  Esse comércio era significativamente diversificado do comércio muçulmano pelo Saara, o mar Vermelho e o oceano Indico. Os muçulmanos tinham também preferência por mulheres e pagavam  alto preço por elas, no comércio muçulmano.Uma vez que na África, a escravidão estava atrelada a sociedades e ao tráfico transaariano de grandes proporções e, mais tarde, ao tráfico transatlântico ou a ambos.

VII-     CAPITULO  II
A ESCRAVIDÃO NO BRASIL FINAL DO SÉCULO XVII
E INÍCIO DO SÉCULO XVIII.
   A escravidão definida como explorativa, foi um fator que marcou muito a passagem do período colonial. As diferentes etnias contribuíram para a formação do povo brasileiro, na África a escravidão passou por muitas transformações em épocas diferentes que marcaram as principais características das relações sociais de uma sociedade escravista, onde os escravos não tinham identidades, eram apenas explorados. As sociedades africanas eram bem organizadas antes do tráfico, que as transformou, num mecanismo onde o processo de escravização tinha papel fundamental na distribuição de escravos e na formação social. Na África as diferenças entre a escravidão tornaram-se mais evidentes com a busca de negros para serem utilizados como fonte de renda e de capital por negociantes inescrupulosos. Na África Ocidental, ou em outras regiões africanas a instituição de escravização tinha por finalidade a procriação, a plantation de subsistência. Desenvolveram mudanças nas estruturas econômicas e políticas das sociedades africanas. A região tornou-se uma das fontes que abasteceram o comércio transatlântico. Ainda que a escravidão não tenha sido transformada em instituição produtiva. Os escravos eram usados na produção, e suas tarefas estavam relacionadas com a divisão sexual.

Ao observarmos municiosamente este trabalho, como conhecimento de esclarecimento, objetivando reunir o material necessário para que pudéssemos explanar conceitos e características que diferem a escravidão africana da escravidão no Brasil. Não na sua totalidade, é claro, e sim em parte, na costa ocidental, onde o tráfico se desenvolveu com mais intensidade. De maneira geral, ao tratarmos os africanos escravizados, como molas mestras que impulsionaram a economia de um sistema que foi implantado, com o único objetivo de fomentar capital, impetrar lucros, através da mão-de-obra nas Américas. Não descartamos as conseqüências trazidas pelo tráfico de escravos, vindos de diferentes pontos da costa africana, principalmente da Costa da Mina e da Costa de Angola. A mão-de-obra barata necessária às plantações de cana, fumo, algodão, e mais tarde para o trabalho mais árduo, as minas de ouro, em Minas Gerais.
Segundo Marina de Mello e Souza, regiões da costa da Mina e Angola, predominantes dos povos acãs, fantes, axantes daomeanos, benis,oiós e iorubanos, que mantinha relacionamentos com povos mais afastados da costa tais como: os baribas,nupes,hauças e mandingas que viviam  no interior. A fome crescente de almas movimentou as economias coloniais da América. Lucros exorbitantes eram extraídos por traficantes. Ao fim do século XVII, São Paulo de Luanda tornara-se colônia portuguesa, edificando um forte, colégio para os jesuítas, quartel  para abrigava militares, a casa do governador entre outros edifícios de administração. O comercio fluía no porto e locais de grande movimento. Enquanto fora da cidade colonos e seus escravos, se organizavam nos plantio e na criação de animais domésticos, que alimentavam a população,ainda forneciam aos navios. A nova sociedade angolana, transformada aos moldes portugueses e de tradições africanas passam a misturar-se com povos ambundos, imbangalas, congos, ovimbundos, lundas, lubas, quiocos, cassanjes, todos entre si e também com os portugueses. Consolidando uma sociedade de domínio inteiramente colonial.

 O incremento de cativos vendidos pelo tráfico abastecia a colônia americana de mão-de-obra.Foi também no final  do século XVII que, portugueses comprometeram-se abertamente  com as guerras que produziram escravos, para abastecer o tráfico ,mais tarde os  reis Alafins e chefes de aldeias  passaram a adentrar cada vez mais para o interior, na busca constante de vidas para fortalecimento de suas alianças com tráfico. A colonização da América portuguesa, no Brasil transformou profundamente as sociedades africanas, principalmente o Congo e Angola.  Os portugueses, espanhóis, franceses, ingleses e holandeses, todos sem exceção, com mais ou menor intensidade, exploraram a mão-de-obra de escravos africanos. No início do século XVII, os traficantes entravam nas aldeias e prendiam os habitantes. Com a valorização do escravo passaram a intermediar, os métodos de captura foram se sofisticando então passaram a comprar. Os chefes de tribo africana vendiam as pessoas em troca de instrumentos de metal, fumo, cachaça e outras bugigangas, Os sudaneses vindos da Nigéria, Daomé e Costa do Ouro, os de língua banto, de Angola, Congo e Moçambique e os malês foram os primeiros escravos a desembarcarem no Brasil. Nem todos os chefes eram corruptos. Nesse caso os traficantes de escravos provocavam guerras entre as tribos rivais. Findos os combates, procuravam o chefe da tribo vencedora e compravam os prisioneiros. A expansão da atividade açucareira no Brasil favoreceu o comércio triangular entre América, Europa e África que transformou milhões de negros em moedas de troca, por uma lucratividade sem precedentes, por ser o açúcar, um produto de grande aceitação no mercado europeu. No entanto, os séculos XVII, XVIII e XIX conheceram um tráfico de escravos sem precedentes no mundo. O fluxo de pessoas seqüestradas na África e trazidas para a América era inédito e grotesco.

“É certo que a inserção do comércio de almas no funcionamento da economia e da 
sociedade brasileira guarda importantes diferenças se tratando de autores como 
Caio Prado Jr., Celso Furtado, Fernando Novais, Ciro Cardoso e Jacob Gorender”. [3] 

Para justificarmos esta questão, aferimos mais conotação dessas diferenças, seguindo a mesma linha de pensamento desses autores que, o comércio de escravos foi à alavanca fundamental da economia brasileira, aferindo marcas indeléveis na estrutura do tráfico de escravos, nos quais foi tratado por três fatos notório: como variável do cálculo econômico da empresa escravista colonial, enquanto fluxo demográfico e como negócio. Dentro dessa estrutura, que visava à mão-de-obra africana com principal objetivo ligado a força física dos homens e a força de trabalho, visando o comércio externo, que fazia a empresa colonial crescer em termos econômicos. Absorvendo através do tráfico, o controle da agro manufatura açucareira, que, auto financiava-se  numa duplicação de  capacidade produtiva.Este financiamento não era investido dentro da colônia. Beneficiava apenas, as elites, neste caso não se investia nada internamente Quanto mais se comerciava com produtos tropicais, mais se expandia à colônia, havendo ainda mais necessidade de braços da África para a reprodução desses produtos, consumidos pelas sociedades locais.  Ao trabalhar, o escravo alimentava toda a classe dominante colonial. A exploração da força de trabalho do escravo também permitia o pagamento de trabalhadores com funções diferentes que não deixava de ser escravo tais como: mestres-de-açúcar, os purgadores, os caixeiros, isso acontecia dentro da sociedade fundada no latifúndio, na grande propriedade agro-exportadora, na plantation.
Para a reprodução da mão-de-obra, principal fonte de crescimento para o trabalho escravo que, dependia da renovação dos meios de trabalho e para a continuidade do tráfico, já que a maneira de reprodução aqui no Brasil era insuficiente. Na produção colonial, de natureza mercantil o escravo era explorado, enquanto força de trabalho, e como mercadoria de grande valor comercial e a demografia externa, era vista de forma diferente por cada autor.
Outra maneira de analisarmos a escravidão instituída de maneira mercantil, supondo o não aproveitamento da mão-de-obra escrava resultaria na estrutura do tráfico. Embora escravidão sendo uma instituição quase tão velha quanto à própria humanidade, jamais o tráfico de escravos fora tão organizado permanente e vultoso deste o início século XVI. Embora mais acentuado no século XVII, a falta de braços nativos na escala exigida pela produção era fator determinante, fortemente acentuado por Caio Prado Jr., Celso Furtado e Ciro Cardoso este fator foi determinante e depois assumido por Jacob Gorender, mais negado por Novais. Se para os três primeiros essa escassez, ou no caso de Gorender:

“o nível das forças produtivas é que levaria à adoção da escravidão mercantil, era evidente 
que, para todos eles a demanda precede à oferta de braços “[i].

Com relação a Novais, este paradoxo não seria negado, senão estivesse se referindo aos índios. Porque o índio era considerado inadaptável para o trabalho na lavoura, pois na sua cultura indígena, esse trabalho pertencia ao lado feminino.
Na África criaram-se circuito comercial cada vez mais continuado, espantosamente, eficiente e rendoso. Embora capturados cada vez mais no interior do continente africano, os escravos iam ficando cada vez mais barato, a mercadoria humana. Não há questionamento sobre os verdadeiros motivos que levou o continente africano por tanto tempo, a oferecer escravos a preços tão irrisórios.  Para Gorender, trás à baila e se refere mais demoradamente ao continente africano. Onde sua opinião estava voltada para a sede braços que envolveriam a colônia, e para esse envolvimento, a África se encaixaria perfeitamente ao mercado europeu. Século XVII a União Ibérica, as invasões holandesas do Nordeste pelos holandeses e a crise geral da economia européia contribuíram para o estabelecimento de algumas tendências: a produção açucareira aumentou, beneficiando-se da desorganização derivada das invasões holandesas; igualmente, a produção para o abastecimento do Nordeste cresceu. Em ambos os casos, a mão-de-obra africana tornou-se cada vez mais imprescindível, e sua aquisição se dava pelo escambo de farinha de mandioca, aguardente e tabaco baiano comerciado diretamente com a África.
Ao compararmos a Guanabara, com o Nordeste veremos que demanda de escravos para essas capitanias era inferior em números de escravos, pois, tornou-se superior em relação ao comércio ultramarino em valor alfandegário, isso já ao longo do século XVIII, que superavam os outros dois portos importantes também para a América portuguesa, Salvador
e Recife.      
“A partir de 1729, o porto do Rio de Janeiro passaria a deter mais da metade do valor das 
três alfândegas consideradas e, 1724 a 1751, a praça do Rio de Janeiro deteve o 
maior crescimento relativo.[4] 

Foi então no terceiro decênio do século, que o Rio de Janeiro começa a mudar e passa ser o centro principal do comércio da América portuguesa, passa a ser o mais importante porto ultramarino em importações e reexportações do comércio internacional.
Logo depois, da primeira metade dos setecentos houve uma queda na área da plantation de cana de açúcar, deixando a colônia em desfavorável situação econômica. O açúcar já não proporcionava os lucros desejados, isso fez com que se abrisse o comércio Atlântico, o qual intermediou demanda de escravos africanos para Minas Gerais.
 “Entre meados da década de 1710 e fins seguintes, o porto carioca absorvia cerca de1/5 do 
total de africanos importados pela colônia o qual durante a década de 1720, girava 
em torno de 15 mil africanos/ano.” [5]

Entretanto encerra-se o ciclo da Guiné por causa do tráfico em demasia para o porto carioca e para compensar essa demanda passa-se a transportar  negros africanos da Costa da Mina, que chegando ao porto carioca, tinha destino certo,  iam para  Minas Gerais. Nesta ocasião na primeira metade do século XVIII, já se fazia uma administração regional, porque em Minas Gerais não havia condições de subsistência, os produtos consumidos pela colônia vinham de fora para o seu abastecimento. Foram grandes as mudanças no setor demográfico, o aumento populacional, e maior introdução de escravos nestas áreas, isso já a partir de 1760. Se já no século XVIII, o porto carioca exercia poderes sobre o tráfico atlântico no lado sul, esta condição terá como aprovação centro do Rio como importante comercio de homens para o Brasil.  Essa comparação feita por Manolo Florentino, o Rio de Janeiro com as de Eltis (1987 a: 114) importações realizadas por Salvador e pelos portos do Norte e Nordeste (Pará, Maranhão, Pernambuco e Ceará), observa-se que, de fato, no intervalo de 1811-20 as importações cariocas eram entre duas e quase três vezes maiores do que as destas regiões. Para o intervalo de 1821-30, a diferença flutuava entre quatro e cinco vezes.  
 Seguirmos a linha de comparação de Manolo Florentino, ao analisarmos o porto carioca, que teve volume significativo em relação aos outros portos acima já citados, assumindo total expressão de rentabilidade absoluta em relação a agro exportação.  Percebendo-se que, as importações cariocas estavam sendo dirigidas para o mercado europeu ou se era o inverso, pois, estas importações tinham um volume extraordinário.  Sendo implantadas aqui no Brasil, desenvolvendo corpo organizado, colaborando para a constituição brasileira. Além disso, tentaríamos desvendar o porquê da oferta de cativos, por serem maior em números, em relação à colônia. Sabemos que o escravo é oriundo da África, e que vinham através do tráfico africano como bens de consumo, o que implicaria  de vez com sua condição social .
 Ao olharmos por esse lado veremos a eficaz produção o movimento da mercadoria humana. Para explicitarmos, quais foram às mudanças sofridas pelos negros até desembarcarem no Brasil. Deixavam sua cultura e vida social e passavam a serem  mau tratados  nas mãos de traficantes europeus e americanos. O tráfico atlântico foi o maior responsável pelas transformações que os negros africanos puderam passar e incidiram sobre essa dinâmica.  A Europa e ilhas do Atlântico importaram o maior número possível de escravos tendo início no século XVI. Este tráfico interno, realizado por europeus, contribuiu substancialmente para a expansão das relações escravistas em amplas áreas do litoral do Oeste africano (Lovejoy, 1983:23). Estes traficantes instalam-se no forte de Arguim, ao norte do rio Senegal, os portugueses fazem da Alta Guiné, um dos mais tradicionais, centro de aquisição de escravos antes do século XVII.






VIII- CAPITULO- III

TRANSFORMAÇÕES NA ESCRAVIDÃO NA AFRICA
NO FINAL DO SÉCULO XVII INÍCIO DO SÉCULO XVIII

O acompanhamento das mudanças na escravidão interna teve sua transformação inserida na extensa demanda européia por escravos e foi muito diversificada daquela produzida pela expansão islâmica. Foi introduzida nova força que havia modificado a escravidão, mudança esta, que, de maneira diferente, ocasionou acontecimentos com resultado de dependência islâmica na savana setentrional e através da costa oriental africana. E ainda uma respeitável conseqüência do comércio europeu, da escravidão tinha sido materializada de forma não-muçulmana de escravidão. A característica sofrida pela escravidão era marginal para uma sociedade importante instituída, mas continuou a ser interpretada no contexto das estruturas de linhagem, isso na maioria dos lugares.
Do ponto de vista de Paul Lovejoy, para analisar as mudanças, é indispensável assinalar o que ocorreu nos setores do sistema escravocrata africano: método escravização, construção de classificação dos escravos e o papel deles no desenvolvimento social. A escravidão na África revelou mudanças em cada um desses setores, alguns separadamente e algumas vezes em combinação.
Na África essas diferenças tornam-se bastante esclarecedoras quando são comparadas. Chegando a mudar as estruturas econômicas e políticas, nas instituições de escravização e de tráfico, como no caso da África Centro-Ocidental. A região foi provedora no abastecimento para o comércio transatlântico, apesar de não ter sido vinculada como instituição produtiva. Os escravos nas sociedades de linhagem podiam ser usados na produção, embora suas tarefas fossem pautadas na divisão sexual do trabalho. Neste caso, as mulheres faziam a maior parte do trabalho agrícola. Com essa combinação permitia-se o entrosamento da mão-de-obra feminina, possibilitando o acesso à vida sexual e a filhos.  As regiões africanas não-muçulmanas estavam diretamente ligadas ao comércio de exportação. O nível em que políticos e negociantes sustentavam esse comércio através da escravização e do tráfico. Continuamente o acréscimo e a segurança a disposição de manter a oferta regular, foi sendo possivelmente empregada em novas formas, com os escravos. Na escala de produção de bens, o ouro estava inserido, mercadorias agrícolas, manufaturados e sal. Estes produtos estavam relacionados com o acréscimo destes bens e com as novas formas. Já no século XIX, o uso da produção de escravos, foi se tornando respeitável em muitos lugares. Das diferenças ideológicas para a economia da plantation européia das Américas, baseada em um número expressivo de escravos, a escravidão africana passa a ser vinculada a uma sociedade ligada a terra.  Onde era utilizada em algumas regiões em termos de parentesco e continuava marginal, endógena dentro da sociedade. Contudo, o crescimento do tráfico de escravos, intensificado por povos escravizados afetou a instituição em praticamente todos os lugares. A influência islâmica interage entre o ambiente nativo, com a demanda européia por escravos equipou a dinâmica acrescida da escravidão na África no ultimo milênio, essa independência nem sempre tiveram essas variáveis. Segundo Paul Lovejoy, para entendermos por “escravos” os que eram seqüestrados, capturados em guerras ou condenados a serem vendidos como conseqüência ou reparação de crimes, obviamente eram escravos. Estruturalmente, no entanto, a escravidão era marginal.
O mercado europeu foi influenciado pelo islamismo e outros desenvolvimentos políticos e econômicos foram afetados em direção a escravidão. Já que esses fatores em determinadas sociedades de natureza escravista, teve um impacto que a transformou e resultou em uma ambiência nativa diferente. A história da escravidão tem essa dinâmica, e as transformações acenderam o aparecimento de sociedade escravocrata onde antes só havia alguns poucos escravos na sociedade.  Essa escravidão tornou-se uma instituição essencial, e não uma característica periférica. A África pôde ser inserida numa rede internacional de escravidão, porque as maneiras nativas de dependência pessoal permitiam que socialmente pessoas fossem transferidas de um grupo para outro. Quando a ligação por parentesco era rompida, como no caso da escravidão, era necessário remover as pessoas daquele local escravizado para uma região mais distante. A tendência a esse movimento estava atrelada aos mercados externos de escravos, aqueles do mundo islâmicos e das Américas. A convergência desses cativos era de ir para as circunvizinhanças para regiões com grande desenvolvimento econômico e político, tanto dentro da própria África ou fora dela. As importações não ocorriam dentro da África, eles eram exportados. A dimensão decisiva para esta questão segundo Paul Lovejoy, a África estava integrada em uma rede internacional de escravidão acontecia porque a África foi uma região de oferta de escravos. Na África, por exemplo, tinha um atrelamento estrutural entre essa competência de prover escravos para o uso externo e o emprego interno dos mesmos. A graduação dessa exportação demonstra o seu impacto. Da costa atlântica da África, foram mais de 11 milhões de escravos, segundo o autor que, deixaram as praias, em número ainda maior tenha enveredado o caminho dos países islâmicos do norte, Arábia e Índia. A história da escravidão que vinha de dentro da África, não o rumo dos africanos fora do continente, fosse foco e aumento desse comércio tão substancial que, desvendava componente essencial na influência social dos escravos, na verdade de outros dependentes, na África. Uma das probabilidades com as quais os escravos tinham diante de si, uma a exportação, outra a exploração. Esta dentro da própria África. Elas estavam ligadas intimamente nesta estrutura. Em geral, os escravos eram vendidos ao não cumprimento de suas tarefas, a venda não se dava tão somente pelo Atlântico, mas também pelo deserto do Saara, o mar Vermelho e oceano Indico uma maneira de puni-los, estabelecendo constante  ameaça que, auxiliava no controlar as ações dos cativos.O negócio acarretava riscos enormes para os escravos, inclusão longas caminhadas forçadas, alimentação precária, exposição a doenças em condição de exaustão, fome e maus-tratos.Os escravos tinham conhecimentos de que a morte e os danos físicos eram constantes e bastantes comuns.Paul Lovejoy sucinta que, a fonte para o comércio de escravos exterior foram desde tempos remotos, a África.
A África era como um depósito de escravos abundantes e baratos, estavam logo à mão era só pegá-los. Outra dimensão do escravismo que afetou fortemente a história da instituição do continente africano foi esse aspecto de escravização. Não concebível se pensar que os africanos escravizassem seus próprios irmãos. Embora isso tenha acontecido constantemente. As guerras, seqüestros e manipulações legais e religiosas eram as principais responsáveis pela escravização da maioria dos cativos, tanto para os exportados como para aqueles que ficavam na África. Havia diferença em outros lugares onde a escravidão era comum, particularmente na América e nas partes centrais do mundo islâmicos, a escravidão aceitável era uma característica fundamental do escravismo como uma instituição. Nas Américas e nos principais estados islâmicos, os senhores contavam com o tráfico para obter a maioria de seus cativos. Eles não eram os culpados pela escravização direta das pessoas. Mas já na África, em muitas ocasiões os escravizadores e os proprietários de escravos eram os mesmos. As terras centrais islâmicas olhavam as regiões adjacentes como uma fonte de escravos para a Europa e a África. Os escravos também se mudavam de regiões periféricas, para outras mais centralizadas, faziam esse movimento dentro da própria África, embora a escravização tivesse aspecto predominante em todos os lugares. Separação operacional entre a escravização e o uso de escravos, não havia, permanecia intrinsecamente associada. Na África a escravidão era centralizada funcionava como controle social, dentro de um sistema politicamente baseado em relações tributaria presente na elite militar e linhagens dependentes. Neste sistema escravocrata, a escravidão preenchia uma série de funções compreendidas tas como: alistamento militar que compelia carregamento no comércio a longa distância, o casamento e os sacrifícios em funerais.Uma característica essencial do escravismo na África revela que, essa conexão, totalmente articulada com a utilização de escravos na produção, a escravidão foi transformada num modo de produção distinto. Definida como explorativa, a escravidão. Era caracterizada pelo conceito de que havia dificuldade de diferenciar indivíduos submetidos à escravidão e indivíduos subordinados a exploração. A escravidão variava ao logo do tempo, daí decorre que a escravidão precisava se fundamentar, nas diferentes formas que assumiu e nos significados de cada sociedade.



IX-CONCLUSÃO


Este estudo tem por finalidade analisar a escravidão no Brasil e África. Houve então mesmo em meio a uma situação adversa, de transformação religiosa na vida dos escravos, pelo menos no caso dos escravos. O fato é que os europeus compravam escravos vendidos por mercadores muçulmanos africanos, que os adquiriam através das guerras, seqüestros e capturas. Inicialmente tentou-se escravizar os povos indígenas que habitavam as costas do Brasil. Essa tentativa mostrou-se,mais tarde infrutífera,vez que o índio brasileiro, pela sua cultura era vista como inadaptável e além disso não trazia lucro nenhum para a colônia. Criou-se um potente comercio povos abundantes nas costas africanas. O auge do tráfico se deu no século XVI, com incursões pela África,  intensificando-se no século XVII, principalmente na costa africana adentrando para o interior.Com inovações tecnológicas os europeus chegaram ao continente africano atrás de mão- de - obra barata , afim de aumentar sua rentabilidade,pois a escravidão estava essencialmente vinculada  ao trabalho escravo.O acompanhamento das mudanças na escravidão interna teve sua transformação inserida na extensa demanda européia  por escravos e foi diversificada daquela produzida  pela expansão islâmica.A característica sofrida pela escravidão era marginal para   uma sociedade importante instituída no contexto das estruturas linhagem.Uma característica fundamental do escravismo na África revela que,essa conexão quando articulada com a utilização de escravos na produção, foi transformada num modo de produção distinto.
Definida como explorativa, a escravidão. Foi caracterizada pelo conceito de que havia dificuldade de diferenciar indivíduos submetidos a escravidão  e indivíduos subordinados a exploração.A escravidão variava ao longo do tempo, daí decorre que a escravidão precisava se fundamentar, nas diferentes formas que assumiu e nos significados de cada sociedade.



X- BIBLIOGRAFIA
FLORENTINO, Manolo – Arcaísmo como projeto - Editora Brasileira,
Rio de Janeiro – 2001. Pp.36,38 e39.
FLORENTINO, Manolo - Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a
África e o Rio de Janeiro: séculos XVIII e XIX-São Paulo - Companhia das Letras, 1997.
Pp.24, 26, 27, 29, 30, 31,39 e40
LOVJOY, Paul. A Escravidão na África: uma história de suas transformações.
Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2002. Pp.35, 38, 39, 44, 51, 80, 106, 107, 178, 179, 180 180 e 193.
SILVA, Costa da Alberto e, A manilha e o Libambo:
a África e a escravidão de 1500 a 1700.Rio de Janeiro;Nova Fronteira 2002.
PP.155, 158, 159, 180, 205, 206, 217, 237, 238, 243, 244 e 245
SOUZA, Mello de Marina e, África e Brasil africano.
São Paulo; Ática 2006. Pp.38,42,57,61,64,65,66,68,70.




[1] SILVA, Costa da Alberto e,A  Manilha e o Libambo: A  África de 1500 a 1700.Rio de Janeiro; Editora Nova Fronteira, 2002.p217.
[2] LOVEJOY, Paul E. A  escravidão na África:uma história de suas transformações.Rio de Janeiro.Civilização 
Brasileira, 2002.p. 51.
[3] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro: séculos XVIII e XIX, São Paulo, Companhia das Letras, 1997. P.24
[4] FLORENTINO, Manolo, O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária   e elite mercantil em uma economia tardia:Rio de Janeiro,c.1790-c.1840/Manolo Florentino e João Fragoso, Rio de Janeiro,Civilização Brasileira,2001.P.p 75.
[5] Op.cit.p.76.


2FRAGOSO, João, FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo como projeto. Mercado atlântico, sociedade  2001.
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